A maternidade me transformou!

18 de maio de 2021

Decididamente: dentro de uma mulher há muitas outras facetas desta mesma mulher. Começamos nossos caminhos como bebês; nos tornamos crianças, depois meninas-adolescentes e, por fim, mulheres. Somos filhas, irmãs, amigas, tias, primas.  Podemos escolher sermos esposa, mãe, ou uma profissional.

ESCOLHER?? Estes não seriam caminhos naturais da mulher?

SIM! Embora ainda prevaleça a ideia de que ser mãe, esposa ou profissional seja algo natural em nossas vidas, hoje a maioria das mulheres vê a maternidade como uma escolha – de ser ou não mãe, quando, como, com quem.

Isso era impensável há poucas décadas.

Lembro no meu aniversário de 29 anos, quando minha avó materna, a vó Carminha, com 86 anos, me perguntou se eu era ´figueira do inferno´. Quando perguntei o que significava, ela disse: “É árvore que não dá fruto.”

Segundo pesquisa de Maria do Carmo Vieira do Cunha, desde a antiguidade as mulheres eram símbolo de fertilidade e prosperidade em diversas civilizações. A esterilidade, portanto, se apresentava como imagem da morte. Segundo Cunha, alguns textos bíblicos mostram benção e fertilidade como palavras sinônimas, assim como maldição e esterilidade. Portanto, historicamente, não ser mãe não era uma escolha e sim uma anormalidade desqualificadora para as mulheres.

O fato é que, com 30 anos de idade, vivi no inferno e no céu ao mesmo tempo.  Profissionalmente, era ´bem sucedida´: havia concluído o Mestrado e recebido o convite para fazer Doutorado em Educação, no Canadá. Um sonho, não?!

Paralelo a isto, em busca do sonho de ser mãe, ao realizar os exames iniciais para engravidar, descobri que tinha infertilidade sem causa aparente.

Fiquei desorientada, sem saber o caminho a seguir, pois, se profissionalmente me sentia produtiva, como mulher, ao receber o diagnóstico de infertilidade, me sentia muito frágil e incapaz.   

Poderia ter seguido os dois caminhos – o Doutorado e a ´tentativa´ da maternidade – mas, naquele momento, decidi fazer uma escolha. Foram quase cinco anos peregrinando e investigando tratamentos, aborto, desgastes e desequilíbrios de todas as ordens: emocional, financeiro, relacional e físico.

Aos 34 anos, após duas FIVs (fertilização in vitro) e uma batalha com uma síndrome autoimune, dei à luz ao Antônio, que tem no seu nome a síntese do que representa para mim: inestimável, que não tem preço.

Ao voltar da licença maternidade, com aquele sentimento ambivalente de querer retomar minha carreira e cuidar do meu filhote, fui demitida. A gangorra tinha virado: agora era produtiva como mulher, pois afinal havia me tornado mãe, e ´fracassada´ como profissional. Nascia ali mais um clássico case dos estudos em inteligência emocional: estava eu inserida nas estatísticas dos profissionais que são admitidos por suas habilidades técnicas e demitidos pelas suas inabilidades sócio-emocionais.

Ouvi muitos elogios sobre as inovações que havia implantado na instituição, e que o problema estava nas relações, pois eu era muito brava, impulsiva, intolerante, e muitas pessoas tinham medo de mim.

Sai da sala onde fui demitida mais uma vez desorientada! Como voltar para casa e ser responsável por um bebê totalmente dependente de mim, se minhas características mais marcantes eram a braveza, a impulsividade e a intolerância?

Foi no dia 4 de dezembro de 2006 que descobri que não bastava ter decidido ser mãe. Eu precisava decidir que mãe eu queria ser para o meu filho. Da reunião de demissão fui diretamente buscar auxílio para meu desenvolvimento emocional. Quando descobri que estava com depressão pós-parto, decidi que faria de tudo para ser uma ´mãe suficientemente boa´ – termo usado pelo psicanalista Winnicot. 

Estou há 14 anos (idade do Antônio) neste processo de transformação que nunca acaba, e que me permitiu muitas outras escolhas transformadoras:

Por um ano e meio me dediquei ao cuidado do Antônio, sem trabalhar fora de casa, aprendendo e descobrindo o meu jeito de ser mãe. Dois anos depois de dar à luz, fundei e coordenei – por 11 anos – a Escola Caminhos, centro de educação infantil inspirada na pedagogia ativa e da escuta porque, como mãe e educadora, tinha um firme posicionamento de que a escola poderia ser parceira das famílias na educação de seus filhos, validando o protagonismo infantil e respeitando os valores familiares, com caminhos diferentes daqueles sempre legitimados.

E como descobri que estava evoluindo neste caminho de transformação?

Em outubro de 2013, estávamos nos preparando para um compromisso. Estava cansada, atrasada, e falei alto para meu filho: “Te arruma que estamos saindo!” Meu filho, com 7 ou 8 anos, deu a resposta típica de criança: “Já vou!”

Passados 5 minutos, eu chego no quarto e ele estava do mesmo jeito: sem os calçados, sem arrumar o cabelo e jogando videogame.

Eu reagi, estressada: falei alto e dei um sermão. Meu filho me olhou, com seus olhos lindos (diga-se de passagem), e me arrebatou: “Mãe! Porque tu está falando assim comigo se tu é sempre tão calma?”

Esta cena, corriqueira na vida das famílias, foi para mim uma comprovação de que eu estava conseguindo me transformar, que era possível mudar, que habilidades comportamentais também se desenvolvem.

Meu filho foi minha grande motivação para minha transformação pessoal e para outro ciclo de transformações que iniciei entre 2013 e 2014. Senti necessidade de reorganizar minha rotina de trabalho. Contratei uma coach, fiz uma capacitação em feedback, fiz formação em coaching. Desde este período, então – associados aos meus conhecimentos da pedagogia da escuta -, os estudos e o trabalho com o desenvolvimento humano, a parentalidade consciente, a disciplina positiva, o coaching para pais, crianças e para adolescentes entraram no meu mundo.

Acredito que, sem sombra de dúvidas, que além de ter feito a melhor e única escolha que poderia fazer, a maternidade trouxe as mais impactantes e recompensadoras transformações em minha vida. Sinto-me comprometida em contribuir para que crianças, adolescentes, famílias, educadores e outros profissionais da parentalidade possam lidar com os desafios que o mundo de hoje lhes apresenta.

Cabe dizer aqui que não compartilho do jargão “Só se encontra a felicidade quando se é mãe”, nem que eu não seria feliz se não fosse mãe. Não vivi o outro caminho. Faço o alerta para que aquelas que não conseguiram ser mães, ou que fizeram a escolha de não serem mães, não se sintam inferiores, infelizes ou “figueiras do inferno”. A felicidade pode ser encontrada através de vários caminhos, especialmente o do conhecimento interior. Conhecer-se, desenvolver-se e escolher uma ou outra opção pode se transformar em uma linda fórmula da felicidade real!

Então…

Se você escolheu a maternidade, pense que depois dessa escolha você tem outras: que mãe você pretende ser? Que escolhas vai fazer para viver a maternidade com felicidade?

Se você não escolheu a maternidade, que escolhas têm te trazido felicidade?

Que bons ventos conduzam você a felizes caminhos!

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Categoria: Blog

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